domingo, 27 de dezembro de 2015

[Versos no comboio] Entropia poetica

A poesia é a terra que desbravas, ficando tufa, para cultivares o milho; o feijão e a pedra,  a sapatinha e a alma, o bongolon e o teu coração.

Sabes quando sais ao fim da tarde para ir ao lugar?

A poesia é o terreno  que preparas, arrumando as pedras,  construindo muralhas.
Estendes palhas secas para fertilizar.
Mas esse terreno não tem marcas, não tem fronteiras ...

Teodoro da Silva Correia

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

[Versos no comboio] Intersepção

Desculpa por estar a interromper-te. Imagina que estava a apenas a pedir-te para darmos uma volta, por um instante. Não é verdade que ouvi falar da qualidade multitarefas? Vamos, a procura de prazer. Melhor do que uma vida paralela é uma vida interseptada. Enquanto um para , o outro cruza. Nunca sabemos aquele instante que subitamente queremos sair. Podes estar a ler livro, a fazer a cama, a lavar a loiça, a ver à janela. Ou simplesmente a imaginar. Desculpa-me por um instante.

Teodoro da Silva Correia

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

No domingo

O domingo devia ser um dia realmente santo.
até o mar devia ser um santo, e evitar exaltação.
Vejo um Castelo Desejo de quem subiu o penedo e imaginou,
despreocupado com a ameaça da tarde que há de chover,
um terminal  à espera de cruzeiros que há de chegar,
na semana que há de vir ...

Teodoro Correia

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Um só lugar

nascemos no mesmo dia. Experimentamos, sentimos ao mesmo tempo.
não digas que estás no Norte e eu no Sul. Que estás no canal e eu na margem.
partilhamos no mesmo lugar. O espaço é continuo, o sentimento é uma onda.
estamos no mesmo ponto. Os olhos é que estão distantes.
o tempo é uma esquina. Vira-se num fechar de olhos.
o tempo é um segundo. O relógio é que está parado.
se o espaço não é um canto, então estamos atirados para o mesmo canto.

teodoro correia

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

À beira de estrada

Espero. Espero à porta
Espero entre as paredes da janela. Quando a noite cair.

Espero. Espero a noite toda pela madrugada.
Espero pelo cantar do dia. Que me espera.

Espero. Espero dentro de mim.
Espero por quem nunca partiu. Do pensamento.

Espero. Espero sem dormir.
Espero pelo bater da porta. Sempre aberta.

Espero. Espero vendo ao longe.
Espero que voltes da viagem. E do que trazes.

Espero. Espero à beira de estrada.
Espero que não demore. Que me leve.

Espero. Espero sentado no mocho.
Espero ainda que apareçam aos tostões. O dinheiro é tempo.

Espero. Espero à boca da fonte.
Espero pela água. Limpida.

Espero. Espero à sombra.
Espero que o sol ardente se arrefeça. Para continuar.

Espero. Espero numa lapa.
Espero que a chuva passe. Depois de molhar o chão.

Teodoro da Silva Correia