põe as flores que encontraste num vazo
troca a água de três em três dias
leva-as à janela ao fim do dia
para ver o por sol e beijar a luz
sentir-me-ei fresco e vital
só por ve-las a crescer e desembuchar-se
só por ver-te a cuidar delas e talvez de mim
a poesia é o único corpo que dá energia, e a vida
quando todas as outras estão paradas, e mortas
parte acenando a massa, o metro
as folhas viram-se de página ...
quatro de manha
as raízes alargam-se
à procura de profundidade
o corpo transpira-se
mostrando vitalidade
numa fotossíntese sem luz
e os lábios florescem-se
um botão de rosa
sobre o lençol branco
Posso até pintar uma parede
Mas é mais do que isso
Posso até dobrar um patinho de papel
Mas é mais do que isso
Podem sair apenas algumas palavras
Mas é mais do que isso
Posso conseguir apenas acenar com as mãos
Mas é mais do que isso
Podes ver que, escritos
mesmo os grandes romances
terminam num ponto final.
toda a tua vida acaba
metido numa caixa
toda a tua identidade cabe-se
apenas num cartão
toda a tua emoção perde-se
no último prazer
Tens a força, podes vencer
a gravidade, e mover-te
Tal um avião de papel!
Num certo ponto, perdes-te
A gravidade de volta traz-te
nos seus braços até a terra