sábado, 21 de novembro de 2015

Uma homenagem (longe longo)

É demais
É demais para mim
Largos tempos passaram
Nem um pedaço de papel chega

É demais
É demais para uma só pessoa
A nossa casa chove
A minha alma enxagua-se

Dói-me muito
Dói-me o peito
E espalha-se pelo corpo
Não sinto o pulsar
Eu não te sinto

Vem e leva tudo
Contigo
Leva o coração e deixa o meu corpo
Sozinho

Já não consigo sonhar
Neste pau-de-cama ver
a noite clara
Já não consigo ir
à porta de casa receber
a lua que chega

O tecto já não me protege
contra nada, nem solidão
As paredes já não me isolam
de nada, nem de ti

Perdi a fé em visitar-te além Corinto
Perdi o teu corpo, perdi o meu copo
Apenas sinto prendido por uma argola de metal

Ontem à noite, antes de ir para cama
Vi a nossa foto preto e branco ganhando pó
Estás tu perto de mim
Nós entre uma silenciosa moldura
Que agora nos envolve

Hoje de manha, à mesa
Olhei para a minha frente
A tua cadeira estava vazia
O meu café não tinha o gosto
Da aroma que tu usavas

Ao abrir o guarda-roupa encontrei
O casaco que gostavas de usar
O meu coração estava pendurado
Tirei o lenço e fechei a porta

Tristeza tomou conta de mim
Entá-me no corpo, está-me na veia
Está no chá de manha, na refeição que tomo

Tenho estado a cuidar  apenas eu
O que semeamos e deveriamos colher
Juntos no pôr-de-sol de Janeiro

Tudo que tinha ao sol está secar
A perder-se  por uma chuva inesperada
Tudo que tinha como reserva está no fundo
Tudo que ainda tenho é semente de esperança
Levo isto tudo,  até morrer

[Musica de fundo]

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